O IBGE lançou no final de 2017 A geografia da cana-de-açúcar, uma publicação que aborda os aspectos territoriais da economia sucroalcooleira. São analisados os lugares de origem dos insumos e máquinas agrícolas, as áreas de cultivo, as vias de escoamento da cana e seus derivados e os lugares de processamento industrial e de comercialização.
Essa publicação é o segundo volume da série Dinâmica Territorial da Produção Agropecuária.
Embora a Mata Atlântica ainda seja o bioma onde a cana está mais presente, a área plantada no Cerrado aumentou consideravelmente na última década.
Por isso, o Cerrado do estado de São Paulo, que representa somente 1% do território nacional, concentra nada menos do que 1/3 de toda a área de cultivo da cana no país.
No entanto, em todas as Unidades da Federação há canaviais, alimentando inúmeros empreendimentos e formas de produção, desde forragem para gado até fabricação de papel.
A análise espacial desse volume utiliza dados estatísticos produzidos pelo IBGE - como a Produção Agrícola Municipal (PAM) e o Cadastro Central de Empresas (Cempre) - e por outras fontes oficiais, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Na forma de camadas de dados geoespaciais, essas informações também estão disponíveis na Plataforma Geográfica Interativa (PGI).
O primeiro capítulo do estudo aborda a biologia e a ecologia da cana-de-açúcar, tratando tanto de variáveis naturais (quantidade e sazonalidade das chuvas, por exemplo) como de aspectos relacionados à infraestrutura e aos insumos adicionados pelos agricultores (como mudas certificadas e irrigação).
Também oferece subsídios para a avaliação da dinâmica recente da expansão canavieira nos diferentes biomas brasileiros, com destaque para a expansão da área plantada no Cerrado do estado de São Paulo ocorrida na última década.
No segundo capítulo, são apresentados os aspectos sociais e econômicos desse cultivo, entre 1975 e 2015. Na análise histórica de longa duração, a principal transformação constatada foi a retração das áreas tradicionais na costa nordestina e do Norte Fluminense, e a expansão no bioma Cerrado, a partir da área de modernização consolidada de Ribeirão Preto (SP).
Desse núcleo, as plantações de cana-de-açúcar se expandiram, de forma contínua, para oeste-sudoeste, em direção aos planaltos do Rio Paraná, incluindo o Triângulo Mineiro, o centro-sul de Goiás e o sul do Mato Grosso do Sul.
O terceiro capítulo aborda a geografia do processamento industrial da cana-de-açúcar, abrangendo os seus principais produtos derivados, que inclui a produção artesanal de rapadura, melado e açúcar mascavo, passando pela produção de aguardente – abarcando processos artesanais e industriais de produção – até a grande indústria moderna de açúcar e etanol.
A análise mostra que a Região Sudeste concentra a produção de açúcar, etanol e energia e tem o maior número de usinas. Além da configuração espacial da produção de rapadura, melado, aguardente, açúcar e etanol, o capítulo apresenta uma discussão sobre a geografia do uso do bagaço para a geração de energia em centrais termelétricas.
Outro tema abordado é relativo ao desenvolvimento contemporâneo de produtos derivados como o “etanol de segunda geração” (E2G) e o “plástico verde”, elaborado a partir do etanol de cana-de-açúcar.
O quarto capítulo fala sobre a circulação dos derivados da cana-de-açúcar, incluindo as infraestruturas e esquemas logísticos e os níveis de consumo regional por parte das famílias, além das exportações.
Essa parte do estudo mostra como o crescimento recente do setor sucroenergético se refletiu em novos desafios logísticos para a colocação do açúcar e do etanol ao alcance do público, além de fazer uma reflexão sobre o posicionamento dos derivados da cana-de-açúcar no mercado consumidor brasileiro e mundial.
Também é feito um exercício de regionalização das hinterlândias portuárias (área geográfica servida por um porto e a este conectada por uma rede de transportes) relacionadas ao escoamento do açúcar e do etanol do Brasil para o exterior.
Uma das revelações é que as hinterlândias açucareiras do Porto de Santos e do Porto de Paranaguá se sobrepõem, mas a influência de Paranaguá penetra no estado de São Paulo.
O quinto capítulo procura captar a cadeia de produção e circulação do ponto de vista das centralidades geradas pela localização de empresas e instituições de ensino e pesquisa e pelos fluxos intermunicipais de matéria-prima e insumos.
Por meio da integração de dados de área (atributos de lugares) com dados de fluxo (relações entre lugares), o capítulo fornece uma análise inédita dos circuitos espaciais que estruturam a economia sucroenergética brasileira.
Essas análises mostram que há dois grandes complexos regionais sucroenergéticos: o da Costa Nordestina e o da Bacia do Paraná (entendida no sentido geológico, ou seja, bacia sedimentar). Esses dois complexos são constituídos por diferentes combinações de fatos físicos e humanos, contrastando em termos de produtividade agrícola, grau de uso de insumos, estruturas logísticas e estruturação dos circuitos espaciais, entre outras características.
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