De acordo com a Unica, a moagem acumulada desta safra até o dia 01 de julho foi de 198,75 milhões de toneladas. Estamos atrasados em quase 7,81%. Já foram produzidos 11,05 milhões de toneladas de açúcar (11,02 milhões em 2016), praticamente o mesmo volume, mas tombamos no etanol, com produção total de 7,61 bilhões de litros (-14,33%). O hidratado caiu 19,5%, para 4,39 bilhões de litros e o anidro caiu 6,1%, para 3,22 bilhões de litros.
No ATR a diferença diminuiu bastante, estávamos bem piores que na safra anterior, e agora praticamente alcançamos, chegando a 123,17 kg/ton. A produtividade também quase alcançou o ano passado, chegando no acumulado da safra a 82,12 toneladas por hectare, o que dá 0,91% a menos que na safra anterior. O teor de ATR desta última quinzena foi de 129,97 quilos/tonelada de cana, contra 129,80 do mesmo período do ano passado. Na quinzena também o mix foi de 50,48% para açúcar e moemos 1,42% a menos que a comparação do mesmo período.
Também destaque o memorando assinado entre indústria e produtores no Ethanol Summit, que passa a ser um novo Protocolo Agroambiental, com ações para estimular o reflorestamento, com recuperação de matas ciliares e o fim definitivo da queimada.
O mês no açúcar não foi bom. Seguem aparecendo os números que mostram o excesso de produção. Pela Datagro a safra de 2017/18 (outubro/setembro) será de superávit ao redor de 590 mil toneladas, e também houve queda na previsão do déficit de 2016/17, que antes era 6,78 milhões de toneladas e agora passa a ser 5,71 milhões.
Na Índia estamos com chuvas acima do normal, ajudando na produtividade e fazendo a produção provavelmente voltar a 25 milhões de toneladas. Só a Índia pode aumentar quase 5 milhões de toneladas na produção comparada à safra anterior, com aumento de área de 4,48 para 4,75 milhões de hectares. O consumo na Índia também está impactado negativamente por preocupações com saúde, impostos em refrigerantes e outros.
Na exportação o desempenho é bom. Em junho foram enviadas 3,089 milhões de toneladas de açúcar, o que dá 26,6% a mais que o embarque de maio e 15% acima de junho de 2016. Isto trouxe ao Brasil US$ 1,273 bilhão, dando quase 23% acima de maio e quase 40% acima de junho de 2016. Em 2017 o açúcar já buscou no exterior US$ 5,514 bilhões, pouco mais de 40% acima, exportando 12,783 milhões de toneladas, volume pouco acima de 2016 (+2,2%).
Há clima de pessimismo no mercado contaminado pelos fatores baixistas e pouca expectativa que o petróleo possa reagir. No fechamento desta leitura o mercado futuro de açúcar estava em ligeira alta, quase perto dos 14 centavos de dólar por libra-peso na tela de outubro, e ainda temos a valorização do real. No mercado interno, a saca está ao redor de R$ 64,00, razoavelmente menor que o mesmo período do ano passado. Ou seja, não foi um bom mês.
No etanol tampouco temos boas notícias. Dentro do processo de destruição de valor pelo qual passamos, em dez anos o etanol perdeu quase dez pontos na participação dos veículos Otto, de 55% para 45,8% em 2016. Só de 2015 para 2016 perdemos 3,3% de participação.
O consumo de etanol não reagiu como precisaria. Pela UNICA, o total de etanol vendido pelas usinas do Centro Sul foi de 2,12 bilhões de litros em junho, sendo 149,46 milhões de litros exportados e 1,97 bilhão para o mercado interno. De anidro foram vendidos 838,70 milhões de litros, menos que os 861,69 milhões do mês de junho de 2016. O hidratado também caiu para 1,13 bilhão de litros, contra 1,16 bilhão de maio.
Preços do petróleo neste ano já caíram 20%, vindo desde o pico de US$ 56 para os atuais US$ 44 o barril. Temos hoje muito mais produtores com distintas tecnologias de produção, o que faz com que o cartel do petróleo perca sua força de controle. Resta esperar pela volta da CIDE na gasolina, pelo menos a inflação muito abaixo da melhor expectativa e a necessidade de arrecadar do Governo são fatores de estímulo.
Enquanto a cana contribui fortemente para a balança comercial, o déficit na balança comercial advindos do diesel e da gasolina só aumenta. No primeiro trimestre tivemos déficit de 2,63 bilhões de litros de diesel e 1,411 bilhão de litros de gasolina. São números sensivelmente superiores ao mesmo período do ano passado, de 1,44 bilhão de litros para o diesel e de 568 milhões de litros para a gasolina. Mais um estimulo ao RenovaBio.
Os EUA apresentaram via a Agência de Proteção Ambiental (EPA) a nova meta para os mandatos de biocombustíveis, com ligeira redução no volume onde se encaixa a cana (biocombustíveis "avançados") para 4,24 bilhões de galões em 2018 face aos 4,28 bilhões de 2017. É uma mudança praticamente imperceptível, uma vez que o Brasil se tornou importador líquido de etanol (em 2016 tivemos US$ 321 milhões de déficit na balança comercial de etanol com os EUA). O milho manterá em 15 bilhões de galões, o que é uma boa notícia ao agro brasileiro, face ao risco que uma diminuição desta meta traz nos preços das commodities. Segundo a Datagro, a participação do Brasil nas exportações mundiais de 2013 para 2015 caiu de 40% para 26%, enquanto os EUA pularam para quase 50% do mercado.
No fechamento da leitura o hidratado estava R$ 1,39 e o anidro R$ 1,54, neste momento, sem grandes perspectivas de alteração. Um mês que na conjuntura, não foi bom ao setor, mas na estrutura, um pouco mais de esperança na adoção do RenovaBio e na volta da CIDE, além da aprovação da reforma trabalhista.
Marcos Fava Neves
Professor da USP e Consultor da ORPLANA