Diante de um dólar mais 'comportado', os fundamentos se sobrepuseram no mês passado, pressionando as cotações da maior parte das commodities agrícolas. Na bolsa de Chicago, os grãos caíram sob o peso da oferta global abundante com a soja caminhando rumo ao menor nível em seis meses.
Em Nova York, o destaque foi a expressiva baixa do açúcar, refletindo o cenário na Índia, que é grande produtor e consumidor dessa commodity.
Levantamento do Valor Data baseado nos contratos futuros de segunda posição de entrega normalmente, os de maior liquidez mostra que o preço médio do açúcar, que se valorizou bastante desde o ano passado devido ao déficit global na atual safra (2016/17), caiu de forma expressiva em março, atingindo o menor nível desde maio último.
No mês passado, o açúcar recuou 11,38% ante a média de fevereiro para 18,03 centavos de dólar por librapeso.
Embora o cenário de oferta para o longo prazo permaneça apertado, o esperado corte da tarifa de importação da Índia que impulsionaria a demanda no curto prazo não aconteceu.
Devido à quebra da safra de cana no país asiático, a expectativa no mercado é que os indianos inevitavelmente terão de buscar açúcar de outras partes do mundo, mas a redução tarifária é essencial para tanto.
Diante disso, as incertezas em relação ao "timing" e ao volume de importações dos indianos pressionaram as cotações, apontou o Rabobank, em relatório trimestral.
Nessa conjuntura, os fundos que atuam nos mercados futuros reduziram as apostas na alta do açúcar. Conforme levantamento divulgado pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) na última sexta-feira (31/04), o saldo líquido comprado dos gestores de recursos somava 56,4 mil contratos no último dia 28, queda de quase 60% em março.
Ainda em Nova York, os preços do café também recuaram, com a média 3,6% inferior à de fevereiro.
A queda das cotações reflete a resistência dos compradores, que estão adiando as compras, diz Thiago Cazarini, da trading Cazarini. Além disso, a safra 2017/18 no Brasil, apesar da bienalidade negativa, está em boas condições.
Também ancorados nas apostas de baixa dos fundos , os grãos negociados em Chicago fecharam março em queda, liderados pela soja, cujo preço médio recuou 3,87%, de acordo com o Valor Data. Por sua vez, milho e trigo caíram 1,76% e 1,72%, respectivamente.
Segundo o analista Renato Rasmussen, do Rabobank, o recuo dos preços da soja já era esperado, tendo em vista a colheita recorde nos EUA no ciclo 2016/17, e a substancial recomposição da safra brasileira, cuja colheita está em fase final.
Nesse quadro, a demanda atual não é suficiente para segurar os preços. Conforme o analista, o balanço entre oferta e demanda deve resultar em estoques maiores.
A recomposição da oferta de soja fez os preços da oleaginosa romperem o "piso técnico" de US$ 10 o bushel, destacou o analista do Rabobank. Em março, o preço médio da oleaginosa ainda ficou acima desse patamarem US$ 10,0678 , mas a ruptura já se consolidou, disse Rasmussen.
Na sextafeira, os contratos futuros de soja para maio encerraram o dia a US$ 9,57.
Na avaliação do analista do Rabobank, a consolidação da oleaginosa abaixo dos US$ 10 foi reforçada na sexta-feira, com a divulgação das estimativa de área plantada nos EUA.
Conforme o Departamento de Agricultura do país (USDA), os agricultores americanos semearão 36,2 milhões de hectares com a oleaginosa na safra 2017/18, um recorde.
Se as condições climáticas ajudarem, não há razão para imaginar que os preços da soja subam, avaliou Rasmussem.
"Se tivermos um ano normal, podemos esperar que a soja fique na casa dos US$ 9,50", acrescentou ele. Para 2017, o Rabobank trabalha com um piso de US$ 9,25 o bushel para soja. Por outro lado, o milho, cujo preço médio atingiu US$ 3,6998 em março e US$ 3,7175 no último pregão do mês, pode ter encontrado um "piso", especialmente após o USDA estimar na sexta-feira uma redução de 4% na área plantada em 2017/18 a soja tomará espaço do milho nos Estados Unidos.
"Internacionalmente, há condições até para uma leve alta do milho", avaliou o analista do Rabobank, ponderando que o cenário é outro no mercado brasileiro, onde o aumento da
produção pressionará as cotação.
fonte: www.valor.com.br